21.10.07

Coisa difícil quando alguém puxa conversa e a gente não entende absolutamente nada do que a pessoa diz. E ela não é estrangeira. É nascida na Paraíba e criada no Ceará, mas eu nunca tive problema com sotaque e não era esse o caso. O caso é que eu nunca entendo uma palavra do que ela diz, e começo a me deseperar já ao vê-la se aproximando com um sorriso. Ela gosta de conversar e de contar sobre o seu dia a dia, e eu fico ali, com cara de idiota, tentando não franzir a testa e olhando dentro dos olhos dela e nos lábios, tentando captar alguma coisa do meio daquela atropelação de palavras e do seu jeito de falar pra dentro. Aí ela termina de contar e me olha com ansiedade, esperando uma resposta. E é lógico que eu não sei o que dizer, murmuro uns 'hum-hum' ou dependendo da expressão dela digo que 'é, é complicado mesmo'. E tento cortar o assunto, imaginando o que ela pensa sobre mim. Deve me achar uma pessoa de poucas palavras.

16.10.07

*

Descaradamente roubado da Fal, porque achei tão bonito que não consegui resistir.


Correspondência Secreta

"Beijo, não se esqueça de ter um bom dia, é rápido, indolor - mas requer engenho e arte.
M."

12.10.07

E alguém me diz, minha gente, pelo amor dos meus filhinhos, quando é que uma pessoa de miolo não muito consistente aprende a viver no presente? Quando?! Porque eu aqui não aguento mais.

***

Essa coisa de viver um tempo que não existe me mata por dentro. É uma ansiedade generalizada o tempo todo, o coração disparado e nunca satisfeito, porque nunca está onde eu estou.
Como se meu coração e minha alma não morassem comigo. Eles sempre estão lá atrás, folheando um álbum de momentos bons que talvez eu não tenha aproveitado como deveria, ou lá na frente, desesperados - pro bem ou pro mal - pelo que está por vir, criando momentos na cabeça, querendo experimentar antes coisas que talvez nunca aconteçam, e que se acontecerem, muito provavelmente não será daquela forma.
É um sofrimento por nada. Uma coisa idiota, não?
Eu tento, mas não aprendi ainda a não fazer desta forma. E aí eu vivo assim, oito ou oitenta, lá no passado ou lá no futuro, sentindo coisas irreais e sofrendo, sempre sofrendo feito uma heroína de novela mexicana, perdendo todo o agora.

Aí eu penso: será que existo?

***

9.10.07

*

Eu deveria parar de contar com as pessoas. Meu humor deveria parar de oscilar baseado em atitudes alheias. Eu deveria largar de ser emocional, mole e paranóica. Eu tô cansada de tudo. E não sei mais o quanto as amizades são verdadeiras, ou se na verdade cada um só tá preocupado mesmo com o próprio umbigo. Eu queria poder conversar com alguém que entendesse tudo, e me deixasse chorar o quanto eu quisesse. O quanto eu precisasse. Mas não. Não. Sei lá. Cacete.

7.10.07

Dura mais ou menos duas semanas, todo mês. Uma crise de identidade que me pega de jeito, trazendo lembranças de um monte de momentos especiais, que eu gostaria que se repetissem todos os dias. Alguns desses momentos nem tiveram consequências tão boas assim, mas isso a cabeça faz questão de esquecer. A minha maldita (ou bendita?) memória seletiva.
Lembro de olhares, de músicas, de coisas que doem demais sem que eu saiba por quê, de saudades apertadas de mim mesma em momentos que eu me sentia legal, que eu me sentia cool, que eu me sentia do jeito como acho que deveria me sentir sempre.
E eu choro, e dói, e eu bato com a cabeça na parede, e eu aperto os olhos cheios de lágrimas, e a pele se arrepia, e eu me trancafio e fico dias sem querer conversar com ninguém, ou dando patadas, sem conseguir dizer o que realmente anda acontecendo.

Aí telefono pra um amigo não por sentir vontade de conversar, mas pq preciso dar uma resposta e ele sobre um assunto importante - importante pra pessoas como eu e ele, que vivem e sentem e sofrem e morrem no meio de discos, resenhas de bandas novas, colunas do Lucio Ribeiro e festivais. Preciso combinar de lhe entregar o dinheiro do ingresso de um show, que ele vai comprar pra mim. Ligo.
Ele me pergunta se tá tudo bem e eu não aguento e solto o verbo, porque ele é mais velho alguns anos, porque ele tem alguma experiência a mais em várias coisas, e porque ele sempre diz alguma coisa que me deixa melhor, em assuntos sérios ou em assuntos idiotas, citando referências musicais.

- Não, não tá tudo bem, eu tô com crise de identidade, eu não sei se eu tô gostando de ser o que eu tô sendo, não sei se tô gostando do que eu tô sendo obrigada a me tornar, não sei mais quem eu sou e nem sei mais se as coisas que acredito também podem contar comigo...

Ele escuta com atenção e pensa um pouquinho.

- Dany, a gente tá inserido num sistema em que muitas vezes é mais fácil sermos diluídos do que levarmos as coisas e as pessoas pro nosso lado, como gostaríamos. E tem outra coisa...
(silêncio)
...crise de identidade eu também tenho todo dia, sabe? Eu queria mesmo era ser o Liam Gallagher. Mas preciso aceitar o fato de ser só o F. mesmo, né, que jeito?

Do outro lado da linha, solto uma gargalhada como não conseguia há dias. Ele ri do outro lado também.

E o meu sábado fica um pouco mais leve.