2.1.09

As cartas que foram escritas
Todas ali, testemunhas do que aconteceu
E ela estava tão puta pelas cartas que foram escritas
Olhos que ficaram no vazio
E ela puta, puta da vida, não havia outra palavra melhor pra mostrar o que ela sentia
A cara fechada, os olhos, apertados
Até o coração estava contraído
Porque depois de chorar o mundo, ela conseguiu um pouco do que queria
Queria ter raiva, porque com raiva era mais fácil não chorar tanto
E agora estava puta, tão puta que poderia dar um soco na cara daquele por quem daria a vida
Socar a cara dele por ter dito tudo aquilo
E não ter ido até o fim
Uma criança acreditou junto e agora sofre a primeira perda em vida, e ela está puta da vida por ver a criança assim e não poder dizer que vai ser assim a vida toda, contar a verdade
Ela também teve culpa, porque acreditou e se doou
Ele também teve, porque acreditou e se doou
Mas não foi fundo o suficiente
Ou o fundo dele era diferente do dela
Ele dizia já estar no fundo do poço
Pra ela, aquilo não era proteção
Era covardia.

Puta covardia.

Até que a morte.

Houve a troca de alianças.
As mais bonitas que alguém já tinha visto, as mais simples.
Houveram todas as palavras e todos os sonhos do mundo.
A promessa de estar junto na alegria e na tristeza, até que a morte...
Não exatamente a morte, mas os fantasmas.
Os fantasmas dele.
Maiores que o lugar, maiores que a promessa, maiores que o sonho.
Os fantasmas levaram as canções e as palavras.

Até que a morte da esperança os separou.

1.9.08

Precisava de um pouco de paz pra entender a própria cabeça. Tanta gente em volta e tudo o que ela queria era ficar sozinha. Tirar as pessoas de perto. Fechar as janelas. Silenciar a TV. E a alma e o coração. E então tentar entender a bagunça que acontecia ali dentro, desatar nó por nó, arrumar o quebra-cabeças e varrer toda a sujeira que não tinha que estar ali. Não sabia se era certo querer estar sozinha, olhava a família ali, as conversas, a novela, se sentia grata e culpada. Porque tudo o que ela queria era que nenhum deles estivesse mais ali.

28.8.08

No meio do caminho tem uma pedra?

O medo me fez perder tanta coisa.

Ele me domina de uma forma que eu sei que não deveria permitir e as pessoas recriminam e me acham fraca e dizem que 'não pode ser assim'. Poucas pessoas, poucos amigos entendem como eu sou por dentro, porque enxergam além do que se vê. Eu não sei como eles conseguem, sei que o fazem, mas nem assim consigo me sentir melhor. Porque o meu medo de dar errado e dar certo me paralisa há anos.
É engraçado porque ao mesmo tempo sou corajosa, falo, me entrego, mudo de idéia, de casa, de cidade, de projetos, como se tvesse a maior segurança do mundo. Só estou pecebendo agora que essas mudanças repentinas e empolgadas também escondem um medo por trás, um medo de encarar a situação atual, por isso a vontade de saltar pra outros galhos como se etivesse fazendo a melhor escolha.
As coisas que perdi pelo medo me doem, hoje. O teatro, que me excitava e me apavorava tanto, as pessoas dizendo que eu estava evoluindo, que era talentosa em diversas áreas ali dentro, no figurino, cenografia, interpretação e escrita, e eu me desesperando com aquilo tudo e começando a meter os pés pelas mãos, fingir de burra, deixar de estudar, largar as aulas e me enfiar dentro do bar.
Sempre escondi meus medos debaixo da casca junkie. Quando uma situação incomodava, eu mergulhava ali e fingia estar desencanada, e as muletas das boletas e da bebida eram a desculpa perfeita pra pirar, abandonar os projetos, querer mostrar que eu realmente não era capaz de nada e largar mão das coisas. Só eu sei o quanto isso me doía, dói e o quanto me custou e custa até hoje.
E eu preciso sempre das pessoas me dizendo o quanto eu sou capaz, o quanto as coisas que eu faço são bonitas e têm valor, e elas dizem isso quase sempre e mesmo assim eu não acredito.
Às vezes eu acredito. Aliás, no fundo eu acredito. Mas aí vem o diabinho do medo e começa a me encher a cabeça de coisas negativas e disparar o coração. E aí eu fico sem conseguir me mover e sem conseguir respirar, parada, achando tudo cinza e ruim e me achando a mais patética das criaturas humanas. Ataque de pânico, de depressão.

Se Deus me deu o dom das artes, do que é que eu tenho tanto medo? Talvez da conta bancária zerada, de não conseguir pagar a escola da minha filha, de talvez nunca conseguir melhorar? Sim, são medos genuínos.
Realmente sei que eles existem e só quero saber como superá-los, voltar a botar a cara no mundo como fazia antigamente, quando era adolescente e não tinha tanto medo das coisas, ou não tinha muita noção mesmo. Era bom ser sem noção, não ter medo da rejeição. Se bem que esses medos eu sempre tive. Mas criava um mundo meu, um personagem, e fazia as coisas assim mesmo.
Eu fazia coisas interessantes, que as pessoas achavam incríveis para uma garota da minha idade. E aceitava com orgulho os elogios e comentários, dizia que não era nada demais, mas por dentro estufava de orgulho.
Com 12 anos e voz de adulta, me passava por jornalista e conseguia pelos meios mais improváveis os telefones de pessoas famosas que eu gostaria de entrevistar. A internet ainda não existia, era tudo por pesquisa em revista, telefonemas e intuição de onde estava a informação que eu precisava. E entrevistava e guardava as palavras pra mim mesma como um troféu, me divertindo horrores. Acho que com essa mesma idade ilustrei um livro infantil para uma professora que me incentivava muito, e não sei até hoje se foi publicado ou não. Depois editava fanzines, me comunicava com a MTV e a revista Bizz e sonhava em um dia trabalhar nelas. Tudo era fácil e possível.
Mais tarde, trocava informações de música e coisas diversas pelas BBS (Bulletin Board System), uma coisa que era usava no MS-DOS - sim, ainda era difícil achar computadores pessoais com Windows, pelo menos pra mim - onde a gente digitava um código enorme naquela tela verde e preta e fazia um modem jurássico discar, arranhar cinco minutos fazendo barulho e conectar no treco. No caderno de informática vinha uma lista dos telefones das BBS, cada uma era sobre um assunto, as imagens nelas eram aqueles desenhos em ALIAS, enfim. No início da internet brasileira, onde o UOL era uma página pequena, a busca de dados era feita pela pelo Cadê? e pra fazer uma página você tinha que botar código por código HTML tudo na unha, pq não existia template pronto, eu tinha um site bacaninha e feito com esforço chamado Quartinho dos Fundos. Era bem acessado, bonitinho e cheio de dicas pros maconheiros de plantão. Daí conheci um cara que também fazia coisa do tipo, tive convites para produzir história em quadrinho pro e-zine dele, que na época era muito legal e hoje virou uma das lojas mais descoladas do Rio de Janeiro de roupas, comics, toy art e artigos fumetas, e amarelei. Fiz uma ilustração que tá no ar no site dele até hoje, mas nunca mandei os quadrinhos. A partir disso a minha adolescência já estava no final, eu fiz mais um punhado de coisas bacanas, namorei estrela do rock, saí de casa pro teatro, comecei o melhor curso de design do Brasil e fui deixando o medo me dominar e a opinião dos adultos me sufocar. E a história ficou assim, do jeito que o post começou.

Preciso voltar um pouco àquilo que eu fui um dia, quando o mundo ainda não tinha me dado tanto tapa e me botado tanto o cu na mão. E aí? Como faz?

(Não sei se este post ficou desconexo ou ininteligível, saiu do jeito que foi brotando no pensamento...)

26.6.08

wish you were here

Aquela saudade não dependia nem era vinculada a amor, pelo menos não aquele tipo de amor homem-mulher, a coisa sexual. Aquela saudade era vinculada a um amor que ela não sabia como explicar a alguém. Sabia sentir e só. Porque ela se apaixonava por pessoas o tempo todo, pelo jeito das pessoas, pelas atitudes das pessoas, às vezes pelos olhos ou pelos narizes das pessoas, por um corte de cabelo, um disco encontrado nos pertences ou um jeito de vestir, era uma coisa esquisita de entender pra quem não a conhecia bem. E a paixão e o amor que sentia por ele vinham simplesmente da admiração e do coração mesmo. Não queria beijá-lo na boca nem se casar com ele, mas sentia uma falta que chegava a apertar o peito, de olhar pra ele quando ele dormia, fazer carinho nos cabelos quando ele deixava crescer, das costas macias, pequenas e cheias de pintinhas dele, dos barulhinhos que ele fazia quando acordava e de ficar com os pés encostados nos dele, porque aquilo lhe dava uma segurança que a fazia dormir tranquila. Da saudade dos porres, dos papos e das revelações, de saber que ele sabia e de como se sentia aceita não podia nem lembrar sem que a pele se arrepiasse. Às vezes pensava que podia ter sido sua mãe em outra vida. Ou que ele podia ter sido a mãe ou pai ou amante ou o melhor amigo dela por séculos seguidos. Ou teriam sido irmãos, como parecem ser às vezes ainda. A gente nunca sabe. Sabia da saudade; não tinha explicação.

20.6.08

Pescando coragem

Essas frases foram colhidas enquanto eu navegava pelo blog do filme Nome Próprio, de Murilo Salles, com a Leandra Leal interpretando a personagem baseada na obra da Clarah Averbuck. O filme parece muito bom, eu ainda não vi, mas rola um sentimento de identificação que eu (não) sei porque existe... E eu fui colando por aqui, para que tome a coragem que preciso em doses homeopáticas ou cavalares, para que eu me lembre e não me esqueça mais das coisas que me são caras.


*
Essa aqui foi postada bem no dia do meu aniversário, e não por acaso, porque não sei ainda se acredito em acasos, diz muito. Quem me conhece sabe. Quem me ama assim mesmo também.

Jun.09

“As únicas pessoas que interessam para mim são as loucas. Loucas para viver; loucas para falar; loucas para serem salvas; que desejam tudo ao mesmo tempo; que bocejam diante do comum e ardem, ardem como fabulosos fogos de artifício que explodem em mil centelhas entre as estrelas” Jack Kerouac

*

Outras:

"A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver." Paul Klee


"A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira". Adorno


"Nada é verdadeiro. Tudo é permitido" William Burroughs


"Enxergar o que temos diante de nossos narizes exige uma luta constante" George Orwell


"Do sonho: sonhar é acordar-se para dentro" Mário Quintana


"A arte nunca pode ser reproduzida pela razão inteiramente desperta. A razão pode dar-nos a ciência, mas só a não-razão pode dar-nos a arte" E.H.Gombrich


"É preciso provocar sistematicamente confusão. Isso promove a criatividade. Tudo aquilo que gera contradição, gera a vida"


"O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões" Nelson Rodrigues


“Só não existe o que não pode ser imaginado” Murilo Mendes



Vamos?

Alice pergunta:

- mas qual é a direção?
.
- onde você quer chegar?



(pescado no blog da Leandra Leal, pra refletir mesmo)