2.1.09

As cartas que foram escritas
Todas ali, testemunhas do que aconteceu
E ela estava tão puta pelas cartas que foram escritas
Olhos que ficaram no vazio
E ela puta, puta da vida, não havia outra palavra melhor pra mostrar o que ela sentia
A cara fechada, os olhos, apertados
Até o coração estava contraído
Porque depois de chorar o mundo, ela conseguiu um pouco do que queria
Queria ter raiva, porque com raiva era mais fácil não chorar tanto
E agora estava puta, tão puta que poderia dar um soco na cara daquele por quem daria a vida
Socar a cara dele por ter dito tudo aquilo
E não ter ido até o fim
Uma criança acreditou junto e agora sofre a primeira perda em vida, e ela está puta da vida por ver a criança assim e não poder dizer que vai ser assim a vida toda, contar a verdade
Ela também teve culpa, porque acreditou e se doou
Ele também teve, porque acreditou e se doou
Mas não foi fundo o suficiente
Ou o fundo dele era diferente do dela
Ele dizia já estar no fundo do poço
Pra ela, aquilo não era proteção
Era covardia.

Puta covardia.

Até que a morte.

Houve a troca de alianças.
As mais bonitas que alguém já tinha visto, as mais simples.
Houveram todas as palavras e todos os sonhos do mundo.
A promessa de estar junto na alegria e na tristeza, até que a morte...
Não exatamente a morte, mas os fantasmas.
Os fantasmas dele.
Maiores que o lugar, maiores que a promessa, maiores que o sonho.
Os fantasmas levaram as canções e as palavras.

Até que a morte da esperança os separou.