7.10.07

Dura mais ou menos duas semanas, todo mês. Uma crise de identidade que me pega de jeito, trazendo lembranças de um monte de momentos especiais, que eu gostaria que se repetissem todos os dias. Alguns desses momentos nem tiveram consequências tão boas assim, mas isso a cabeça faz questão de esquecer. A minha maldita (ou bendita?) memória seletiva.
Lembro de olhares, de músicas, de coisas que doem demais sem que eu saiba por quê, de saudades apertadas de mim mesma em momentos que eu me sentia legal, que eu me sentia cool, que eu me sentia do jeito como acho que deveria me sentir sempre.
E eu choro, e dói, e eu bato com a cabeça na parede, e eu aperto os olhos cheios de lágrimas, e a pele se arrepia, e eu me trancafio e fico dias sem querer conversar com ninguém, ou dando patadas, sem conseguir dizer o que realmente anda acontecendo.

Aí telefono pra um amigo não por sentir vontade de conversar, mas pq preciso dar uma resposta e ele sobre um assunto importante - importante pra pessoas como eu e ele, que vivem e sentem e sofrem e morrem no meio de discos, resenhas de bandas novas, colunas do Lucio Ribeiro e festivais. Preciso combinar de lhe entregar o dinheiro do ingresso de um show, que ele vai comprar pra mim. Ligo.
Ele me pergunta se tá tudo bem e eu não aguento e solto o verbo, porque ele é mais velho alguns anos, porque ele tem alguma experiência a mais em várias coisas, e porque ele sempre diz alguma coisa que me deixa melhor, em assuntos sérios ou em assuntos idiotas, citando referências musicais.

- Não, não tá tudo bem, eu tô com crise de identidade, eu não sei se eu tô gostando de ser o que eu tô sendo, não sei se tô gostando do que eu tô sendo obrigada a me tornar, não sei mais quem eu sou e nem sei mais se as coisas que acredito também podem contar comigo...

Ele escuta com atenção e pensa um pouquinho.

- Dany, a gente tá inserido num sistema em que muitas vezes é mais fácil sermos diluídos do que levarmos as coisas e as pessoas pro nosso lado, como gostaríamos. E tem outra coisa...
(silêncio)
...crise de identidade eu também tenho todo dia, sabe? Eu queria mesmo era ser o Liam Gallagher. Mas preciso aceitar o fato de ser só o F. mesmo, né, que jeito?

Do outro lado da linha, solto uma gargalhada como não conseguia há dias. Ele ri do outro lado também.

E o meu sábado fica um pouco mais leve.

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