26.6.08

wish you were here

Aquela saudade não dependia nem era vinculada a amor, pelo menos não aquele tipo de amor homem-mulher, a coisa sexual. Aquela saudade era vinculada a um amor que ela não sabia como explicar a alguém. Sabia sentir e só. Porque ela se apaixonava por pessoas o tempo todo, pelo jeito das pessoas, pelas atitudes das pessoas, às vezes pelos olhos ou pelos narizes das pessoas, por um corte de cabelo, um disco encontrado nos pertences ou um jeito de vestir, era uma coisa esquisita de entender pra quem não a conhecia bem. E a paixão e o amor que sentia por ele vinham simplesmente da admiração e do coração mesmo. Não queria beijá-lo na boca nem se casar com ele, mas sentia uma falta que chegava a apertar o peito, de olhar pra ele quando ele dormia, fazer carinho nos cabelos quando ele deixava crescer, das costas macias, pequenas e cheias de pintinhas dele, dos barulhinhos que ele fazia quando acordava e de ficar com os pés encostados nos dele, porque aquilo lhe dava uma segurança que a fazia dormir tranquila. Da saudade dos porres, dos papos e das revelações, de saber que ele sabia e de como se sentia aceita não podia nem lembrar sem que a pele se arrepiasse. Às vezes pensava que podia ter sido sua mãe em outra vida. Ou que ele podia ter sido a mãe ou pai ou amante ou o melhor amigo dela por séculos seguidos. Ou teriam sido irmãos, como parecem ser às vezes ainda. A gente nunca sabe. Sabia da saudade; não tinha explicação.

20.6.08

Pescando coragem

Essas frases foram colhidas enquanto eu navegava pelo blog do filme Nome Próprio, de Murilo Salles, com a Leandra Leal interpretando a personagem baseada na obra da Clarah Averbuck. O filme parece muito bom, eu ainda não vi, mas rola um sentimento de identificação que eu (não) sei porque existe... E eu fui colando por aqui, para que tome a coragem que preciso em doses homeopáticas ou cavalares, para que eu me lembre e não me esqueça mais das coisas que me são caras.


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Essa aqui foi postada bem no dia do meu aniversário, e não por acaso, porque não sei ainda se acredito em acasos, diz muito. Quem me conhece sabe. Quem me ama assim mesmo também.

Jun.09

“As únicas pessoas que interessam para mim são as loucas. Loucas para viver; loucas para falar; loucas para serem salvas; que desejam tudo ao mesmo tempo; que bocejam diante do comum e ardem, ardem como fabulosos fogos de artifício que explodem em mil centelhas entre as estrelas” Jack Kerouac

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Outras:

"A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver." Paul Klee


"A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira". Adorno


"Nada é verdadeiro. Tudo é permitido" William Burroughs


"Enxergar o que temos diante de nossos narizes exige uma luta constante" George Orwell


"Do sonho: sonhar é acordar-se para dentro" Mário Quintana


"A arte nunca pode ser reproduzida pela razão inteiramente desperta. A razão pode dar-nos a ciência, mas só a não-razão pode dar-nos a arte" E.H.Gombrich


"É preciso provocar sistematicamente confusão. Isso promove a criatividade. Tudo aquilo que gera contradição, gera a vida"


"O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões" Nelson Rodrigues


“Só não existe o que não pode ser imaginado” Murilo Mendes



Vamos?

Alice pergunta:

- mas qual é a direção?
.
- onde você quer chegar?



(pescado no blog da Leandra Leal, pra refletir mesmo)

18.6.08

Boatos de Bar

Alice e o amigo conversavam sobre a vida e sobre música, como sempre, na mesma mesa, com a mesma cerveja e os mesmos dilemas. "Você acha que o último álbum do Interpol é melhor que o primeiro, de verdade?" Ele conta que brigou com a namorada, se roeu de ciúme porque a menina admirou em voz alta uma guitarra enquanto assistiam a um programa na TV, e ela já tinha namorado um cara que tocava guitarra - quem é que nunca namorou um, afinal? "Nossa, fulano tem uma Gibson!" E que enquanto discutiam, ele fez questão de dizer que a única groupie que respeitava nesse mundo era Alice, e explicou todos os motivos pelos quais pensava isso. Ela ficou olhando pra cara do amigo sem saber o que dizer. Não sabia se estava ofendida ou lisonjeada.

14.6.08

Post it

Eu tenho tatuado em um dos pés "Let it Be".
Nas costas, "Se há uma luz quero tocar antes de nunca mais".
Era pra ser tipo um post it, que não me deixasse esquecer.

Do que é, então, que eu tenho tanto medo? Porque é que eu preciso tanto que vocês me digam que eu sou capaz?

5.6.08

A mocinha chilena chegou envergonhada, veio fazer o check-out sem saber falar português, sem saber como pedir para o tio vir buscá-la, sem dinheiro trocado. Tentei ajudá-la com meu portunhol macarrônico. Nos entendemos mais com os olhos.
Ganhei dela um sorriso e uma moeda de seu país. "Lembrança de Chile", ela disse. Dei um adesivo. "Lembrança de Brasil". Rimos da simplicidade dos presentes, sorrimos com a doçura do momento. Ela foi embora; meus olhos acompanharam. Espero que ela fique bem.

2.6.08

...

Sentada num lugar onde todos estão de passagem. Eu parada, sentada. Todos de passagem. Entrando ou saindo para suas vidas. A minha, parada. Às vezes é como eu eu nem mesmo tivesse uma. Uma boneca de sorriso plastificado, olá, bom dia, boa tarde, são 6:30, seu táxi chegou, é só apertar o botão senhor, pois não, obrigada, boa estadia, volte sempre, até logo. E as vidas seguem. A minha parada. Na mesma cadeira, no mesmo lugar.

1.6.08

Primeiro de Junho de 2008


Momentos difíceis, perguntas sem resposta, sensação de vazio. Resolvo tirar o tarô da Bons Fluidos e acabo achando que as coisas podem ter um desfecho melhor, dependendo da minha forma de encarar. Não é fácil. Não tá fácil. Vou deixar a carta aqui como lembrete, quem sabe me ajude no caminho.