28.8.08

No meio do caminho tem uma pedra?

O medo me fez perder tanta coisa.

Ele me domina de uma forma que eu sei que não deveria permitir e as pessoas recriminam e me acham fraca e dizem que 'não pode ser assim'. Poucas pessoas, poucos amigos entendem como eu sou por dentro, porque enxergam além do que se vê. Eu não sei como eles conseguem, sei que o fazem, mas nem assim consigo me sentir melhor. Porque o meu medo de dar errado e dar certo me paralisa há anos.
É engraçado porque ao mesmo tempo sou corajosa, falo, me entrego, mudo de idéia, de casa, de cidade, de projetos, como se tvesse a maior segurança do mundo. Só estou pecebendo agora que essas mudanças repentinas e empolgadas também escondem um medo por trás, um medo de encarar a situação atual, por isso a vontade de saltar pra outros galhos como se etivesse fazendo a melhor escolha.
As coisas que perdi pelo medo me doem, hoje. O teatro, que me excitava e me apavorava tanto, as pessoas dizendo que eu estava evoluindo, que era talentosa em diversas áreas ali dentro, no figurino, cenografia, interpretação e escrita, e eu me desesperando com aquilo tudo e começando a meter os pés pelas mãos, fingir de burra, deixar de estudar, largar as aulas e me enfiar dentro do bar.
Sempre escondi meus medos debaixo da casca junkie. Quando uma situação incomodava, eu mergulhava ali e fingia estar desencanada, e as muletas das boletas e da bebida eram a desculpa perfeita pra pirar, abandonar os projetos, querer mostrar que eu realmente não era capaz de nada e largar mão das coisas. Só eu sei o quanto isso me doía, dói e o quanto me custou e custa até hoje.
E eu preciso sempre das pessoas me dizendo o quanto eu sou capaz, o quanto as coisas que eu faço são bonitas e têm valor, e elas dizem isso quase sempre e mesmo assim eu não acredito.
Às vezes eu acredito. Aliás, no fundo eu acredito. Mas aí vem o diabinho do medo e começa a me encher a cabeça de coisas negativas e disparar o coração. E aí eu fico sem conseguir me mover e sem conseguir respirar, parada, achando tudo cinza e ruim e me achando a mais patética das criaturas humanas. Ataque de pânico, de depressão.

Se Deus me deu o dom das artes, do que é que eu tenho tanto medo? Talvez da conta bancária zerada, de não conseguir pagar a escola da minha filha, de talvez nunca conseguir melhorar? Sim, são medos genuínos.
Realmente sei que eles existem e só quero saber como superá-los, voltar a botar a cara no mundo como fazia antigamente, quando era adolescente e não tinha tanto medo das coisas, ou não tinha muita noção mesmo. Era bom ser sem noção, não ter medo da rejeição. Se bem que esses medos eu sempre tive. Mas criava um mundo meu, um personagem, e fazia as coisas assim mesmo.
Eu fazia coisas interessantes, que as pessoas achavam incríveis para uma garota da minha idade. E aceitava com orgulho os elogios e comentários, dizia que não era nada demais, mas por dentro estufava de orgulho.
Com 12 anos e voz de adulta, me passava por jornalista e conseguia pelos meios mais improváveis os telefones de pessoas famosas que eu gostaria de entrevistar. A internet ainda não existia, era tudo por pesquisa em revista, telefonemas e intuição de onde estava a informação que eu precisava. E entrevistava e guardava as palavras pra mim mesma como um troféu, me divertindo horrores. Acho que com essa mesma idade ilustrei um livro infantil para uma professora que me incentivava muito, e não sei até hoje se foi publicado ou não. Depois editava fanzines, me comunicava com a MTV e a revista Bizz e sonhava em um dia trabalhar nelas. Tudo era fácil e possível.
Mais tarde, trocava informações de música e coisas diversas pelas BBS (Bulletin Board System), uma coisa que era usava no MS-DOS - sim, ainda era difícil achar computadores pessoais com Windows, pelo menos pra mim - onde a gente digitava um código enorme naquela tela verde e preta e fazia um modem jurássico discar, arranhar cinco minutos fazendo barulho e conectar no treco. No caderno de informática vinha uma lista dos telefones das BBS, cada uma era sobre um assunto, as imagens nelas eram aqueles desenhos em ALIAS, enfim. No início da internet brasileira, onde o UOL era uma página pequena, a busca de dados era feita pela pelo Cadê? e pra fazer uma página você tinha que botar código por código HTML tudo na unha, pq não existia template pronto, eu tinha um site bacaninha e feito com esforço chamado Quartinho dos Fundos. Era bem acessado, bonitinho e cheio de dicas pros maconheiros de plantão. Daí conheci um cara que também fazia coisa do tipo, tive convites para produzir história em quadrinho pro e-zine dele, que na época era muito legal e hoje virou uma das lojas mais descoladas do Rio de Janeiro de roupas, comics, toy art e artigos fumetas, e amarelei. Fiz uma ilustração que tá no ar no site dele até hoje, mas nunca mandei os quadrinhos. A partir disso a minha adolescência já estava no final, eu fiz mais um punhado de coisas bacanas, namorei estrela do rock, saí de casa pro teatro, comecei o melhor curso de design do Brasil e fui deixando o medo me dominar e a opinião dos adultos me sufocar. E a história ficou assim, do jeito que o post começou.

Preciso voltar um pouco àquilo que eu fui um dia, quando o mundo ainda não tinha me dado tanto tapa e me botado tanto o cu na mão. E aí? Como faz?

(Não sei se este post ficou desconexo ou ininteligível, saiu do jeito que foi brotando no pensamento...)

3 comentários:

Camila Nicolellis disse...

Engraçado como a gente é parecida e diferente a o mesmo tempo...
Uma coisa é fato: vc nunca vai voltar a ser o que foi um dia...
Sempre vai ter altos e baixos... o negócio é continuar construindo, mesmo que seja pra destruir depois... hahahahahahaha
that's life...

Barbara Manoela disse...

mentaliza o medo como uma poça dágua. e pula. Yeah.

Jenny disse...

Medo é uma coisa que todo mundo tem. Até o menino que não tinha medo tinha um: medo de ter medo...

eu tenho de escada rolante, nem por isso deixo de ir aos shoppings!

;)

E aliás, qual seria a graça da vida s não tivessemos medos para serem superados?